Investigação Genética Para Deficiência Intelectual e Transtornos do Neurodesenvolvimento

NEURODESENVOLVIMENTO

Dr. Renan Borges

1/12/20252 min read

Como médico que atende pacientes com deficiência intelectual (DI) e transtornos do neurodesenvolvimento, sei que muitas famílias têm dúvidas sobre a necessidade de realizar exames genéticos avançados, como o CMA (Análise de Microarranjo Cromossômico) e o WES (Sequenciamento Completo do Exoma). Esses testes são ferramentas importantes na medicina moderna, mas é fundamental entender em quais situações eles realmente são úteis e quando podem ser dispensados.

O Diagnóstico Clínico é a Base de Tudo

O ponto mais importante para os pais saberem é que o diagnóstico clínico continua sendo o pilar principal na identificação e manejo de casos de DI e transtornos do neurodesenvolvimento. Isso significa que uma consulta médica cuidadosa, com análise da história do desenvolvimento da criança, do ambiente familiar e de possíveis condições associadas, muitas vezes é suficiente para chegar a um diagnóstico ou direcionar o tratamento.

O exame físico detalhado e a observação do comportamento da criança também são etapas fundamentais. Essas informações ajudam a identificar causas que podem não precisar de exames genéticos, como fatores ambientais (por exemplo, hipóxia ao nascimento ou infecções congênitas).

Quando a Investigação Genética é Indicada?

Os exames genéticos, como o CMA e o WES, são ferramentas que complementam o diagnóstico clínico, mas não substituem o olhar médico. Eles são mais indicados nos seguintes casos:

1. Quando a causa do transtorno não é evidente após uma avaliação clínica detalhada.

2. Se houver características específicas que sugerem uma condição genética (ex.: traços faciais típicos de síndromes genéticas).

3. História familiar sugestiva de condições hereditárias.

Nessas situações, os testes podem ajudar a identificar alterações genéticas mais sutis, que não seriam percebidas por métodos tradicionais.

Os Custos e Limitações dos Exames Genéticos

Uma preocupação comum das famílias é o custo desses exames. Atualmente, o CMA custa em média entre R$ 2.000 e R$ 5.000, enquanto o WES pode chegar a R$ 10.000 ou mais. Além disso, nem sempre eles são cobertos pelos planos de saúde e, mesmo quando realizados, nem todos os casos têm uma causa genética identificável.

Outra limitação importante é que o resultado do exame genético nem sempre altera o manejo clínico. Em muitos casos, o tratamento e as estratégias de reabilitação, como terapias comportamentais e ocupacionais, continuam sendo os mesmos, independentemente do resultado do exame.

Quando o Exame Não é Necessário

Há muitas situações em que os exames genéticos não são prioridade, como:

• Quando a causa é claramente ambiental ou adquirida, como um trauma ao nascimento.

• Se a investigação genética não for alterar o tratamento.

• Quando os recursos são limitados e o foco deve ser no acesso a terapias e suporte multidisciplinar.

O Que os Pais Precisam Saber

A investigação genética é uma ferramenta poderosa, mas não é obrigatória para todos os casos de DI ou transtornos do neurodesenvolvimento. O mais importante é confiar no diagnóstico clínico e no plano terapêutico traçado para a criança.

Lembre-se: o tratamento e o cuidado não dependem exclusivamente de um exame, mas de uma equipe bem preparada e de um acompanhamento contínuo. Se houver dúvidas sobre a necessidade de um exame genético, converse com o médico responsável para entender se ele trará benefícios reais para o caso do seu filho.